terça-feira, 31 de março de 2009

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Centro Municipal de Cultura de Caxias do Sul convida:

Exposição: Vislumbres da Linha II
Fernanda Branchelli


De 29 de Janeiro à 26 de Fevereiro de 2009.

Centro Municipal de Cultura Dr. Henrique Ordovás Filho
Local: Rua Luiz Antunes,312.
Bairro Panazzolo - Cidade Caxias do Sul, Rio Grande do Sul.
fone: (54)3901-1316

Visitação: de segunda a sexta das 9h as 22h
Sabados, domingos e feriados das 15h as 22h


Curadoria: Ana Zavadil e Mona Carvalho





obs.: mais informações "clicar" em cima dos convites.

Vislumbres da LInha II em Caxias do Sul

LINHAS e FORMAS: o desenho como desígnio



A trajetória artística de Fernanda Branchelli é permeada pelo desenho e pela escultura. A sua ação passa do plano à realidade tridimensional. Através das mãos, com desenvoltura, uma linguagem enobrece a outra: o desenho representa a idéia e o pensamento situa-o no limiar da imaginação; a escultura constitui-se da forma e da matéria ocupando o espaço concreto. Os conceitos específicos de cada linguagem transpassam de uma à outra e a diferença que se estabelece entre elas é a temporalidade. No desenho o tempo escoa-se mais rápido, enquanto que na escultura ele é estratificado. A similaridade entre uma e outra ocorre através da linha.



A mostra Vislumbres da Linha II reúne uma série de desenhos que nos revelam grafismos em ritmos sinuosos compostos por signos que se multiplicam produzindo totalidades. O desenho surge como “depositário da verdade, dado que ali, na sua simplicidade complexa, seria muito difícil mentir.” (PASTA, 2008, p.84) pois, a partir da primeira linha depositada no papel, tudo pode acontecer; as marcas deixadas não podem ser apagadas, apenas retomadas ou transformadas sem lugar para arrependimentos.



A observação de uma imagem, seja ela fotográfica ou não, é o começo do processo criativo de Fernanda Branchelli. A empatia entre a imagem e a artista é fundamental e, a partir deste fato, surge o desenho cego, onde as linhas infringem marcas sobre o papel, delineando formas e criando movimentos. Como nos diz Icleia Cattani:



“A primeira criação, o primeiro impulso, no entanto, é fundamental: ele define o que virá a seguir, e é nele muitas vezes que o artista mergulha como num abismo, de onde emerge para atribuir significados às formas criadas. (2005, p.24)



Após o primeiro passo, o desenho é trabalhado em sua plenitude. Os traços consolidam-se em imagens, tanto antropomórficas, quanto zoomórficas. Os padrões gráficos intercalam as formas e constroem os espaços através dos materiais: o nanquim, a folha de ouro e a caneta gel. O desenho completa-se por meio desta combinação entre as matérias e os recursos técnicos empregados estruturados por um tratamento gráfico e cromático às figuras concebidas pela artista. O trabalho começa com a liberdade total da linha, “ (...) numa espécie de automatismo e depois, aos poucos, conferindo-lhes significados conscientes, sobrepostos às primeiras formulações.” (Obra citada,p.24) . A maneira tímida como o desenho começa acaba por perder-se no todo e toma formas consistentes ricas em detalhes e sutilezas.



As formas surgem do primeiro gesto e sinalizam uma construção delicada de várias etapas: o desenho cego, as colagens, a minuciosa tarefa de acrescentar a folha de ouro ou a de prata e a repetição de elementos que interagem entre as figuras. A elaboração rigorosa demonstra preocupação no fazer onde a qualidade técnica é prontamente observada.




Os desenhos nos encantam e nos convidam para um refúgio temporário: os círculos fazem-nos percorrer distâncias num ir e vir e os espaços vazios compõem as pausas onde o olhar descansa. O nosso olhar é aprisionado pelas séries de signos repetidos que se expandem e o encantamento está na tarefa de percorrê-los na busca de todas as informações ali contidas.



Os trabalhos atuais de alto grau de elaboração, onde padrões aparecem dentro e fora das formas, transformam-se em novas idéias no campo de atuação de Branchelli. Essas padronagens nos dão indícios de um caminho a ser trilhado em outra área: o design de superfície. A expansão do processo criativo, transitando para uma nova área, reitera a condição de hibridismo na arte contemporânea, onde as estratégias artísticas fundem-se com outros campos do saber e dentro da própria arte, em linguagens de percursos e técnicas diferentes.



NOTAS

Ana Zavadil, Bacharel em História, Teoria e Crítica de Arte.

REFERÊNCIAS

CATTANI, Icleia. O desenho como abismo. Porto Alegre: Porto Arte, v.13 n. 23 p.23-30. 2005.

PASTA, Paulo. Porque desenho in Disegno. Desenho. Desígnio. ORG Edith, Derdyk, São Paulo: Editora SENAC, 2007.